Duas manifestações folclóricas típicas da região pantaneira poderiam ter sido extintas se não fosse à dedicação de gerações em passar para frente os versos, passos e sequências que fazem parte da cultura popular de Mato Grosso.
Tradições seculares de origem indígena, mais popular nas zonas rurais e ribeirinhas, o cururu e o siriri não foram registrados em livros, nem em museus. Eles foram passados de geração para geração, de pai para filho, e devem sua sobrevivência à tradição oral. Até hoje, há pouca bibliografia sobre o assunto e os estudos que existem se baseiam normalmente nos relatos e na memória de alguns personagens que até com quase 90 anos de idade, contribuem para manter a tradição viva.
Dona Domingas é Domingas Eleonor da Silva, uma das lendas vivas da dança popular mato-grossense. Ela e todos a denominam como uma das mães do siriri, a cuiabana de 53 anos, que desde criança ajuda a resgatar o folclore da região. Nascida na comunidade ribeirinha de São Gonçalo Beira Rio, região onde surgiu a cidade de Cuiabá, foi à primeira mulher de Mato Grosso a tocar o tamborim e ganhou fama por enfrentar de igual para igual cururueiros em roda.
Em Mato Grosso, o siriri é dançado por crianças, homens e mulheres em rodas ou fileiras formadas por pares, que acompanham toadas cujos temas mudam de verso para verso e cujas composições exaltam santos, cidades, a natureza e até pessoas. Tocado em festas e reuniões, a origem do nome siriri é obscura e alguns acreditam ter esse nome em referência a um bicho homônimo.
Na dança, as meninas e mulheres mexem as longas e coloridas saias (com estampas florais) e batem os pés descalços no chão, um ritual que serve para tirar o mau espírito, que, segundo Dona Domingas, é mantido para não desapontar a tradição indígena; os homens e meninos acompanham a toada e os passos com palmas e pisadas fortes usam sapatos para fazer uma espécie de sapateado. Os grupos de siriri têm diferenças entre si: há alguns mais lentos e outros têm batidas distintas nas violas de cocho. As diferenças valorizam a tradição. Por isso, devem manter cada grupo do jeito que eles são.
O Cururu e o Siriri são duas manifestações culturais das regiões pantaneiras de Mato Grosso do Sul e Mato-Grosso, sendo este último detentor da maior quantidade de ativistas desta manifestação tradicional de cântico e dança.
Hereditário, o Cururu e Siriri, ainda de predomiância familiar, é um misto de elementos africanos, europeus (Espanha e Portugal) e indígenas que ecoam a religiosidade e a brincadeira.
O Cururu, ainda formado majoritariamente por homens, apresenta-se na forma de cantoria entoando desafio ou celebração de louvores ao Santo. Forma-se uma roda ao toque da viola de cocho - instrumento carro-chefe da manifestação cultural. Após o louvor ao Santo, são homenageados o rei e a rainha que adentram ao círculo munidos de aguardente, oferecendo a todos que ali se encontram. O cururueiro que toma um trago de aguardente, imediatamente canta para outro que então tomará e em seguida entoará canto para outro e assim por diante.
Os cantos são versados de sentimentos sobre diversificados assuntos, não podendo faltar entre eles o amor, a zombaria e muitos outros que caracterizam o canto e a inspiração destes cururueiros que devotam a sua vida na manifestação.
A dança cururu é ritimada por passos fortes, circulares, pulos e batidas de mão que fazem a marcação juntamente com os instrumentos. A sincronia entre os elementos homem-objeto-dança manifestam-se fortemente durante a apresentação que é um espetáculo de sentimento e fidelidade.
Cururu, é um nome provavelmente originado de deturpação da palavra "Cruz". Segundo alguns estudiosos do assunto, a repetição da última sílaba pelos indígenas foi o elo da formação da palavra "Cururu".
Trazida pelos colonizadores, a dança teve a finalidade de catequização dos Indios sendo este o motivo histórico da apresentação da dança diante da Cruz e do Altar.
As celebrações cururueiras são realizadas principalmente entre os meses de Junho a Agosto, período de festejos juninos e são organizados pela irmandade que antigamente realizavam as festas com as próprias mãos. Segundo relata os festeiros mais velhos, estes afirmam que se organizavam ao longo do ano, reservando tudo aquilo que era de necessidade para a realização do festejo. Atualmente, os cururueiros contam com a colaboração de autoridades e secretarias que incentivam o festival de "Cururu e Siriri"
Diferente do Cururu que predominantemente é uma roda de homens, o Siriri é uma dança de pares, - casais e um gênero musical que é guiado além da viola de cocho, o ganzá e o tamboril, conhecido também por mocho. Dançado principalmente por mulheres, em festas católicas, carnavais e em festivais durante o ano todo, o Siriri é uma dança marcada por compasso de estilo de canto responsorial, de textos e estrofes solo, curtos e leves que expressam menos conhecimento religioso que no Cururu.
Enquanto no Cururu se entoa a Santos, brincadeiras e zombarias, no Siriri, predominam-se o cântico temal de pássaros e outros animais, mulheres. A dança que é de roda transforma-se também em dança de fila, sendo uma de homens e outra de mulheres.
O Siriri surgiu diferentemente do Cururu. De dança de terreiro, o Siriri é uma apresentação de "segundo plano", tendo menos importância que o Cururu, porém, a sua força nos festejos e festivais, vêm demonstrando que o Siriri é de grande valia, mesmo praticado em terreiros. Em sua essência, o Siriri era o momento exato para flertes entre rapazes e moças devido à severidade da educação nos meados de 1900.
O uso de uniformes nas apresentações dos grupos é uma mudança de comportamento, pois, em seu início, os festeiros usavam a sua melhor roupa para ir festar e atualmente com a frequência de exposições, o uso do uniforme possibilita não somente a identificação do grupo, mas também harmonização entre a dança e a comunicação.
Com a crescente exposição, o Siriri tem se portado também conciliador cultural nas escolas públicas, seus passos e cânticos são ensinados e assim novos grupos são formados.
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